domingo, 4 de dezembro de 2011

Caótica India


O ar é denso. A poeira de um deserto próximo encarde os pés, os pulmões, os sáris coloridos. Vacas, camelos e elefantes pintados circulam pelas estradas, ruas estreitas e bazares. O cheiro de especiarias se mistura ao fedor do lixo a céu aberto. De tempos em tempos, o caos sonoro das buzinas dos rickshaws e música hindi é interrompido pelas badaladas das mesquitas. No lugar, um uníssono de fé mulçumana deixa as ruas vazias e, por minutos, esquece-se daquele caos já familiar.

Um homem de bigode toca cítara. Um homem de turbante encanta serpentes. Dois homens caminham de mãos dadas. Homens encaram mulheres; incomoda. Crianças observam atentas aquela raça estranha aos seus olhos arregalhados; encanta. Poucas mulheres na rua.

Os palácios de marajás. Os lagos de Udaipur. As fachadas rosas de Jaipur. Os tons de ocre de uma Jaisalmer camuflada pelo marrom árido do deserto ao fundo. Um pôr do sol no lombo de um camelo. Uma noite nas areias frias do deserto de Thar, fronteira com o Paquistão. As estrelas do deserto de Thar. Noites mal dormidas nos trens que recortam o país. Lassis, massala chais e  chapatis.  

Isso é Índia, isso é Rajastão. Entre o caos, o contraste, os extremos e hipérboles, esconde-se a região mais viva e pulsante que já pisei. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sudeste Asiatico e a hora de partir

Khao San Road, 11 da manha. Uma ultima cerveja Chang. Um ultimo padthai na sarjeta. O classico Dirty Dancing "Time of my life" numa versao ruim e barulhenta é agora trilha sonora de um filme que passa lento numa mente distante e um coracao ainda mais apaixonado pelo mundo.

Guia na mochila, mochila nas costas e é hora de partir.

É... I had the time of my life.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Laos, please don't rush

Os anos de guerra por sua independencia comunista e os impactos das guerras vizinhas Camboja e Vietna parecem nao  deixar marcas naquele povo de espirito hospitaleiro e sorriso no rosto. Com suas vestes laranja, rosto sereno e passo lento, os monges espalhados pelas ruas reforçam o ritmo vagaroso, pacato, agradável de Laos. 


Cheguei a Laos como manda o figurino: devagar. 2 dias navegando de slow-boat  o gigante Rio Mekong, suas águas castanhas e sua vida ribeirinha. E foi ali, nesse mesmo barco, que conheci 6 daqueles que seriam minha especial companhia nas proximas semanas Asia afora. 

 
Primeira parada, Luang Prabang. A expressão dolce far niente pode ser italiana, mas  é nessa charmosa cidade ao norte de Laos, que o equilibrio asiatico e a busca pelo prazer frances (heranca dos anos de colonialismo), se encontram. E assim, os dias se resumem a manhas preguicosas enquanto a chuva das monçoes de agosto lava a cidade.
Tardes de cachoeiras, templos budistas no alto da cidade, compras no melhor/mais organizado/menos insistente mercado asiático. Noites de desbunde gastronomico com uma das mais novas e interessantes culinarias ja provadas por essa viajante aqui: linguiças adocicadas, folhas crocantes de algas do Mekong, dips e temperos com uma overdose de capim-limao, churrasco estilo lao. Tudo acompanhado do tipico sticky rice (arroz grudento) e uma Beerlao trincando. Sempre em ritmo slow, quase parando. 

Cachoeiras e mais cachoeiras
Mercado local
Lao BBQ
Tem dia que a preguiça fica de lado para presenciar, as 5h30 da manha, um dos mais belos rituais budistas com um nome ainda mais poetico: Ronda das Almas, A cidade desperta cedo para servir alimentos  àquele mar de monges em vestes laranja e pes descalcos. Lindo de se ver.

Ronda das almas

Mas vai ter dia que vai dar uma preguiiiica e o dia vai passar lento num dos charmosos cafés da cidade. Aqui pode, aqui deve.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cingapura; um (breve) respiro ocidental no meio do Oriente

Jantar com vista para o skyline da cidade-pais mais luxo do Sudeste Asiatico

Apos meses de vida simples asiatica e dias de preguica urbana pos Ho Chi Minh no Vietna (5 milhoes de motocicletas, transito, barulho, poluicao e a cereja do bolo foi ter tido minha camera roubada), cheguei a questionar se meu DNA permanecia cosmopolita. E eis que vem Cingapura com sua luzes, velocidade e sofisticacao e relembra meus prazeres urbanos. 

Gastronomia sofisticada longe das barraquinhas de rua (ate o nome é luxo: fusion food). Paraiso das compras, dos eletronicos, das grifes.  Sessao de cinema high-tech (livre da dublagem e legenda asiatica). As luzes da cidade grande. Sistema de transporte de excelencia. Um jantar no topo de um arranha-céu. Tudo isso meticulosamente limpo, organizado e refrigerado 24 horas por dia com ar de primeiro mundo (e claro, a precos de primeiro mundo).


E so pra nao perder a essencia asiatica da cosa... Hospedada em Little India, compras no mercado chines, taxista malaio... Aquele colorido caotico, o burburinho oriental, a perfeita mistura de racas e religioes seguem presentes.


Cingapura é isso: um respiro ocidental no meio do Oriente. Nada mais que um respiro. Apos 4 dias do conforto ocidental, ja era hora de voltar ao caos do Oriente.

(Longe de estar pronta pra voltar pra esse lado ai do mundo...).

domingo, 2 de outubro de 2011

Sobre vietnamitas, vietcongs e americanos


A Guerra do Vietna (por aqui chamada "American War") é so o episodio final de um milenio de luta armada do País contra o dominio chines, o imperio Khmer e a colonia francesa.  Se, por um lado, a Historia nao previa um Vietna dividido entre Norte e Sul por ideais comunistas e devaneios ditatoriais capitalistas, o resto da Humanidade se choca ao assistir ao vivo e a cores o limite da maldade humana com o ingresso de um terceiro elemento nessa guerra, que de fria nao teve nada, chamado America. 

Ao Sul, o lider catolico Ngo Diem se ve ameacado a perder as eleicoes para o Norte Comunista e com um golpe militar comeca a ofensiva contra o inimigo. Ao Norte, o movimento comunista ganha forca sob lideranca do "pai do povo", Ho Chi Min, e aqueles que viriam a ser chamados de vietcongs. E os Estados Unidos, quem convidou? Bem... Em epoca de Guerra Fria e sob a afronta de uma vitoria comunista puxar outros países com ideais sovieticos, os Estados Unidos passam a apoiar os desvarios do ditador Ngo Diem e a munir seu exercito com poder de fogo, dinheiro e, finalmente, com a participacao ativa do exercito americano. E assim, Ngo Diem abre as portas do Vietna àquele que derrubaria ainda mais sangue num País com passado ja sangrento. Hello, Uncle Sam.

Dentre uma serie de fatos historicos que daria um livro, as decadas seguintes marcam uma sequencia de ataques mutuos entre Norte e Sul e participacao cada vez mais ativa dos Estados Unidos na Guerra (em dado momento, o ditador do comeco da historia é derrubado - vulgo morto - pelos Estados Unidos e pelo seu proprio exercito de civis/militares insatisfeitos). Os vietcongs impressionam pela engenharia de guerra, recursos escassos e envolvimento/disfarce civil (soldado vira campones, campones vira soldado. Sem distincao de uniforme, status, idade ou sexo, uma nacao inteira - civis e militares - vai a guerra e quando necessario, se infitram no territorio inimigo sem serem notados). E assim esta armada a guerra.

Contrariando qualquer codigo de guerra que poderia existir, os Estados Unidos agravam as consequencias de uma guerra convencional com a utilizacao do nada convencional agente laranja. 83 milhoes de litros de herbicidas derramados sobre a mata vietnamita com objetivo de desfolhar a selva tornando o inimigo visivel para atilharia aerea, atingir o plantio fonte de alimento dos vietcongs e ora... eliminar de vez o inimigo, fosse ele civil ou militar. Ecocidio e carneficina sao palavras brandas para definir tamanha destruicao. Entre vencedores e vencidos, aproximadamente 4 milhoes de vietnamitas de ambos lados foram mortos (dos quais, estima-se, 2 milhoes eram civis), solamente 50 mil soldados americanos e quase 5 milhoes de cidadaos expostos ao agente laranja com consequencias que se estendem ate a terceira geracao dos atingidos.

Mais do que a visita ao Cu Chi Tunnels e o entendimento de como um exercito pequeno e sem poder bélico lutou de igual para igual contra o gigante exercito americano... Mais do que a parada desconcertante no War Remants Museum e as imagens que ilustram ate onde chega a loucura e atrocidade humana em cenario de guerra... O simples pisar no País é dessas experiencias que, de cara, muda sua historia. E mudou a minha.

O Vietna nao me foi brando. De largada, tive problemas na fronteira Laos-Vietna e periguei ter que voltar todo o caminho percorrido para regularizar meu visto (entendam por caminho percorrido as 10hs viajadas ao som de karaoke tailandes num onibus com ar condicionado quebrado e bateria de ipod arriada). Apos 4 horas na fronteira com oficiais vietnamitas com cara de mau, consegui entrar no País. E eis que vem Ho Chi Min e suas 5 milhoes de motocicleta, leva minha camera e me deixa um roxo do tamanho de um palmo aberto no pulso. Sim, questoes um tanto pequenas perto do passado sofrido e realidade dura do País. Mas suficientemente pessoais a ponto de lembrar que a violencia no País tem causa e consequencia.

Sem otimismo dessa vez. Saio do País mais forte, mais dura, mais preparada. Na falta da esperanca de sempre, fecho com John Lennon e suas palavras de paz com aquela que viraria hino anti-guerra Vietna.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vida roots em Gili Meno

Gili Meno. A ilha é assim... meio Robison Crusue. Num bangalo quase pe na areia pago a bagatela de 30 reais. Apos 3 meses de banho gelado, a novidade por aqui é banho de agua do mar. Nao tem descarga. agua no baldinho. E chave na porta pra que? O dia passa entre uma caminhada pela ilha, snorkel pelos corais e um bronze num dos varios bangalos espalhados pelas areias de Meno. Entre um gole de cerveja Bintang gelada e outro, o sol se poe sobre a ilha-irma Gili Trawangan. Pra voltar pra casa, carona de charrete ou lanterna na bolsa.

Pausa pra historia: tenho um pai com manias de Indiana Jones que insistiu em incluir na minha mala duas - nao uma, DUAS!- lanternas alem de um canivete suíço que roda o mundo no fundo da minha mala. Chuta quantas lanternas eu tinha comigo na volta a cabana? Acertou, nenhuma. E talvez finalmente aquele canivete teria utilidade se eu encontrasse uma cobra no caminho. Apos 1h30 de breu naquela ilha de 300 habitantes e com eletricidade hora nao, hora nao tambem, voltei a minha cabana. So por garantia, proxima vez volto de charrete do por do sol...

Voltei. Pra fechar a noite, um peixe na grelha ainda mais fresco que o de Trawangan e é hora de dormir. Dia seguinte, as 5h30 da manha, aquele galinheiro ali do lado desperta a vila pra mais um dia vagaroso.
 
Depois da saga de volta ao paraiso (vide ultimo post) e dos meus 3 dias de Robison Crusue femea (me achando macha pos volta do por do sol no escuro), to aqui pensando... Talvez ja seja hora de voltar pra voltar pra Trawangan...
 
Beijo do paraiso


De Gili em Gili, a saga ao paraiso

Ilhas Gili, tres pequenas ilhas formam o paraiso: Gili Trawangan, a ilha baladeira onde tudo pode (vide ultimos posts). Gili Air cheia de resort, estrutura e familias nordicas (passo longe...). E Gili Meno, a mais roots, vazia, slow, imortalizada com o uber-chick-Hollywood sucesso Comer Rezar Amar (é pra la que o Javier leva a Julia Roberts com a frase em italiano "Atreversiamo". Mulherada sabe do que eu to falando).

As 3 ilhas de areia branca e agua azul turquesa ficam a um pulo de Bali (1h30 de lancha rapida) e a alguns minutos uma das outras de barco publico pela bagatela de 5 reais. Da pra brincar de ida e vinda ao paraiso algumas vezes ao dia.
 

Depois de 10 dias de Gili Trawangan, hora de novas aventuras na ilha vizinha, Gili Meno. O que eu nao contava é que o trajeto em si seria a grande aventura... 

Conhecida por meus atrasos e descompromissos na vida real, multiplique isso por 15 e terás minha versão viajante. E lá estava eu tomando minha ultima cerveja com um brasileiro em Trawangan, relaxada que só... Enfim me dou conta da hora e saio correndo loucamente de mochila nas costas pelas areias de Gili Trawangan (mais ou menos como faço em todos os voos/onibus/trens ou qualquer forma de transporte que envolva horario marcado). Entro esbaforida no barco e enquanto recupero o folego, penso comigo "Ufa! meu santo é forte mesmo...". 

Nao dessa vez... Barco errado, fui parar em Lombok. Alguns milhares de rupias a menos e uma noite em Lombok sonhando com o paraiso ali do lado, penso de novo: "Moral da historia? Nenhuma. Tudo por uma ultima Bintang no paraiso".